quinta-feira, 31 de maio de 2012

Medo e ansiedade contribuem para a satisfação no turismo de aventura.

Por Natália Corrêa

   O que faz das atividades de risco experiências prazerosas? O que, por exemplo, leva alguém a saltar de paraquedas ou praticar rapel? De acordo com a tese de Fabiana Maia, doutora pelo Programa de Pós-Graduação em Administração da UFPE, as emoções consideradas negativas, como medo e ansiedade, também são responsáveis pelo sentimento de satisfação no turismo de aventura. Ao final da experiência, elas são substituídas por emoções positivas, como superação e entusiasmo, e a lembrança que predomina é a de uma aventura única e inesquecível.

   A pesquisa, orientada pelo professor Salomão Alencar de Farias e defendida em abril de 2011, se intitula “O significado das emoções nas experiências satisfatórias do consumidor de serviços extremos: uma investigação no turismo de aventura”. O estudo revela que a satisfação com produtos e serviços está naturalmente ligada a julgamentos cognitivos e reações emocionais durante o consumo. No caso do consumo de serviços extremos, como o turismo de aventura, as experiências representam um somatório de componentes sensoriais, intelectuais, sociais, emocionais e físicos; antes, durante e depois da atividade. Ou seja, a satisfação é construída desde o planejamento, pelas expectativas, as sensações vividas e a memória do que foi vivenciado. 


A pesquisadora em salto de paraquedas

   Fabiana explica que na teoria de marketing, especificamente no campo do comportamento do consumidor, existe uma tendência em considerar os efeitos das emoções de modo bipolar. Isto é, de um lado estariam as sensações de aproximação ao objeto ou situação, tratadas como emoções positivas, e do outro as emoções de afastamento, que estariam relacionadas negativamente com a satisfação. Entretanto, seu estudo demonstra que cada indivíduo pode expressar as emoções de uma maneira diferente, pois essas emoções podem ser combinadas entre si, formando estruturas afetivo-cognitivas. Desse modo, a combinação de emoções positivas e negativas pode se relacionar positivamente com a satisfação.

“As expectativas da sensação de adrenalina, associadas a emoções como ansiedade, excitação e medo, tiveram uma interpretação positiva das emoções, pois estavam relacionadas aos aspectos cognitivos como manutenção da integridade e segurança”, exemplifica Fabiana Maia. Ela conta que os serviços extremos envolvem uma combinação de emoções diferenciadas, associadas ao risco percebido, nas quais se buscam prazer e diversão como resultados. “Os consumidores encaram o risco como parte do desafio que os fazem buscar esses serviços”, comenta.

   De acordo com Associação Brasileira das Empresas de Ecoturismo e Turismo de Aventura, existem três grupos de turistas de aventura: os Topa-tudo (4%), os Abertos (68%) e os Virgens (28%). Os amantes das atividades radicais e da aventura são os Topa-tudo, geralmente dispostos e tranquilos, enquanto os Virgens ainda não experimentaram serviços de risco,seja por limitações do poder aquisitivo ou por medo. Já os Abertos, além de serem maioria, estão prontos para o estímulo. Isto é, “se forem abordados nas suas viagens que não de natureza e aventura pelos meios que declararam eficientes para informá-los, vão aderir à oferta”, explica Fabiana Maia.

   Para a realização da tese, foram consideradas entrevistas com 32 consumidores de aventura, antes e depois do consumo, consideradas suficientes a partir do critério de saturação de dados. Isto significa que a coleta de dados só foi encerrada quando as informações obtidas passaram a se repetir, não apresentando novas evidências. Além disso, a pesquisadora praticou todas as atividades consumidas pelos turistas entrevistados, experimentando ela própria as sensações relatadas e analisadas por meio da análise do discurso.

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