Medo e ansiedade
contribuem para a satisfação no turismo de aventura.
Por Natália Corrêa
O que faz das atividades de risco experiências prazerosas? O que, por exemplo, leva alguém a saltar de paraquedas ou praticar rapel? De acordo com a tese de Fabiana Maia, doutora pelo Programa de Pós-Graduação em Administração da UFPE, as emoções consideradas negativas, como medo e ansiedade, também são responsáveis pelo sentimento de satisfação no turismo de aventura. Ao final da experiência, elas são substituídas por emoções positivas, como superação e entusiasmo, e a lembrança que predomina é a de uma aventura única e inesquecível.
A pesquisa, orientada pelo professor Salomão
Alencar de Farias e defendida em abril de 2011, se intitula “O significado das
emoções nas experiências satisfatórias do consumidor de serviços extremos: uma
investigação no turismo de aventura”. O estudo revela que a satisfação com
produtos e serviços está naturalmente ligada a julgamentos cognitivos e reações
emocionais durante o consumo. No caso do consumo de serviços extremos, como o
turismo de aventura, as experiências representam um somatório de componentes
sensoriais, intelectuais, sociais, emocionais e físicos; antes, durante e
depois da atividade. Ou seja, a satisfação é construída desde o planejamento,
pelas expectativas, as sensações vividas e a memória do que foi
vivenciado.
A pesquisadora em salto de paraquedas
Fabiana explica que na teoria de marketing,
especificamente no campo do comportamento do consumidor, existe uma tendência
em considerar os efeitos das emoções de modo bipolar. Isto é, de um lado
estariam as sensações de aproximação ao objeto ou situação, tratadas como
emoções positivas, e do outro as emoções de afastamento, que estariam
relacionadas negativamente com a satisfação. Entretanto, seu estudo demonstra
que cada indivíduo pode expressar as emoções de uma maneira diferente, pois
essas emoções podem ser combinadas entre si, formando estruturas
afetivo-cognitivas. Desse modo, a combinação de emoções positivas e negativas
pode se relacionar positivamente com a satisfação.
“As expectativas da sensação de adrenalina,
associadas a emoções como ansiedade, excitação e medo, tiveram uma
interpretação positiva das emoções, pois estavam relacionadas aos aspectos
cognitivos como manutenção da integridade e segurança”, exemplifica Fabiana
Maia. Ela conta que os serviços extremos envolvem uma combinação de emoções
diferenciadas, associadas ao risco percebido, nas quais se buscam prazer e
diversão como resultados. “Os consumidores encaram o risco como parte do
desafio que os fazem buscar esses serviços”, comenta.
De acordo com Associação Brasileira das
Empresas de Ecoturismo e Turismo de Aventura, existem três grupos de turistas
de aventura: os Topa-tudo (4%), os Abertos (68%) e os Virgens (28%). Os amantes
das atividades radicais e da aventura são os Topa-tudo, geralmente dispostos e
tranquilos, enquanto os Virgens ainda não experimentaram serviços de risco,seja
por limitações do poder aquisitivo ou por medo. Já os Abertos, além de serem
maioria, estão prontos para o estímulo. Isto é, “se forem abordados nas suas
viagens que não de natureza e aventura pelos meios que declararam eficientes
para informá-los, vão aderir à oferta”, explica Fabiana Maia.
Para a realização da tese, foram consideradas
entrevistas com 32 consumidores de aventura, antes e depois do consumo,
consideradas suficientes a partir do critério de saturação de dados. Isto
significa que a coleta de dados só foi encerrada quando as informações obtidas
passaram a se repetir, não apresentando novas evidências. Além disso, a
pesquisadora praticou todas as atividades consumidas pelos turistas
entrevistados, experimentando ela própria as sensações relatadas e analisadas
por meio da análise do discurso.
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